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sexta-feira, 18 de março de 2011

Figuras raras 1!



Em 17 de dezembro de 1961, o incêndio do Gran Circus Norte-Americano em Niterói, Rio de Janeiro, deixou mais de 400 mortos, na maioria crianças. A tragédia comoveu não só o Brasil, mas o mundo inteiro.
Nesse fatídico dia, o empresário José Daltrino, 44 anos, nascido em Cafelândia, São Paulo, em 11 de abril de 1917, foi para o local consolar as pessoas e ajudar no que pudesse. Foi aí, então, que surgiu o profeta Gentileza. Muitos cariocas devem se lembrar da figura de Daltrino: cabelos e barba longos, vestindo uma bata branca com apliques cheios de mensagens e levando na mão um estandarte com dizeres em vermelho. Durante 35 anos, ele percorreu toda a cidade, viajou nas barcas Rio-Niterói, entrou em trens e ônibus para fazer a sua pregação e oferecer flores a todas as pessoas. Seu lema era “gentileza gera gentileza”. Ele pintou as 55 pilastras do movimentado Viaduto do Gasômetro com inscrições propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar de nossa civilização. Foi pioneiro em denunciar ameaças à natureza e pregou o “AMORRR” (ele tinha um modo peculiar de escrever) e a gentileza como salvação do mundo. Após sua morte em 1996, os textos foram cobertos de tinta cinza por ordem da prefeitura, o que gerou protestos da população. Hoje, recuperado pela Universidade Federal Fluminense e registrado em CD-Rom, o grafismo do Profeta.
Gentileza é patrimônio artístico-cultural do Rio de Janeiro. Gentileza tinha sua própria linguagem, por exemplo, o capitalismo (tido por ele como o mal do mundo) era chamado de “capeta-lismo”. Aos que o chamavam de louco, respondia: “Sou louco para te amar e maluco para te salvar”. E se um incauto tentava lhe dar esmola, ele a recusava sempre sorrindo.

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