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sábado, 7 de abril de 2012

Manoel de Barros = O encantador de palavras!

Bernardo é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe.
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho
1 abridor de amanhecer
1 prego que farfalha
1 encolhedor de rios – e
1 esticador de horizontes.
(Bernardo consegue esticar o horizonte usando 3 fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)
Bernardo desregula a natureza:
Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?).



*Bernardo, um funcionário mudo, cujo único som que emitia era a imitação das barcas que chegavam à Cuiabá. Bernardo foi adotado nos livros por Manoel como uma espécie de alter ego, a quem atribui toda espécie de pensamento e devaneio poético. A Bernardo, o escritor dedicou também sua publicação mais recente, "Escritos em verbal de ave" (2011), que traz entre os versos a notícia da morte de seu ex-funcionário, adornado com desenhos do autor em uma montagem arrojada com páginas dobradas em que é possível abrir o livro em uma só folha. "A minha poesia é inventada, mas é absolutamente verdade. Se eu dissesse que fui ali na padaria e comprei o pão é uma mentira. Eu tô aqui, não fui na padaria, não comprei o pão. Mas a invenção é uma coisa profunda. É uma coisa que serve para aumentar o mundo", elucida.

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